segunda-feira, 2 de março de 2009

O QUE O RS PODE APRENDER COM OS HOLANDESES? Wilen Manteli,Diretor Pres. da Associação Brasileira dos Terminais Portuários

Os holandeses, ao contrário de nós, têm grandes desafios provenientes da natureza, notadamente pela escassez de terras, os fortes ventos e muita água que deve ser controlada para evitar enchentes. Mas, sabiamente, com uso de inteligência, técnica e muito labor, eles transformaram essas contrariedades em potencialidades a seu favor. Produzem energia com a força dos ventos, constroem diques, canais e excelentes portos e assim conseguem um extraordinário desenvolvimento econômico e social.


O segredo disso? Integração, sinergia e prática de governança corporativa, através da qual todos – governo, políticos, empresários e trabalhadores – se mobilizam para empreender as mudanças necessárias e atuam, sempre, com foco no interesse nacional. Pensam e atuam sempre olhando para o futuro e suas tendências, buscando as melhores alternativas de desenvolvimento para a sua sociedade. Lá todos têm consciência de que são, no conjunto, responsáveis pelos resultados finais em qualquer atividade, seja pública ou privada.


Quanto aos portos, a regra é simples: o governo responde pela infra-estrutura, ou seja, os cais de acostagem e a dragagem dos canais, a qual é realizada por empresas de forma constante e permanente. Já a superestrutura é entregue, integralmente, às empresas privadas responsáveis pelos terminais, que atuam com plena liberdade. A atividade é desregulamentada.


A gestão portuária é exercida pela Port Authority (similar ao nosso Conselho de Autoridade Portuária) e por uma diretoria executiva, com ampla autonomia, com cinco membros em cada entidade, sendo na maioria empresários, mantidos pelo mérito e sem nenhuma interferência do governo ou de políticos. Há, assim, continuidade administrativa, sem as perniciosas falhas seqüenciais que sempre ocorrem nas mudanças de governo e flutuações políticas.


Quanto aos trabalhadores, a Holanda dispõe de uma empresa, a STC B.V, que tem como missão formar e treinar trabalhadores para todas as atividades ligadas aos portos e à logística de transporte. Mais importante, a STC, em associação com o governo, possibilita aos jovens ainda no ensino fundamental agregarem matérias integrantes das profissões ligadas à logística que queiram seguir no futuro.

A simplicidade dos procedimentos, a desregulamentação, a profissionalização, o treinamento permanente, a liberdade de investir e empreender, o uso intensivo de tecnologia e a integração de empresários e trabalhadores possibilitam aos seus terminais obterem grande produtividade.


Como exemplo pode-se citar que um dos seus terminais (o Waterland Terminal BV), movimenta 1,2 milhão de t/ano com apenas 35 trabalhadores.
Com efeito, para transformar as nossas hidrovias e portos em efetivos fatores de crescimento e desenvolvimento econômico e social não precisamos reinventar a roda, basta nos ater à experiência da Holanda e adotar uma política que paute:


pela clareza, objetividade, simplicidade,flexibilidade, longo prazo e por marcos regulatórios que dêem segurança aos investidores;

pelo claro e seguro divisor de águas entre a atuação do governo e o da iniciativa privada, outorgando a esta toda a exploração comercial das hidrovias e dos portos, assegurando ao governo a formulação das políticas públicas e a fiscalização das atividades.


pelo respeito e conservação do meio ambiente mediante normas claras e que permitam aos agentes públicos adotarem decisões rápidas para que não emperrem ou afugentem os projetos e investidores, bem como pelo desenvolvimento das cidades portuárias.

No caso do Rio Grande do Sul, poderão ser adotadas, desde logo, as seguintes medidas para impulsionar a exploração plena dos nossos portos e hidrovias, por exemplo, entre outras:


1. No Porto de Rio Grande:
Adotar um novo modelo autônomo para o porto com administradores profissionais, vocacionados para atividades empresariais, avaliados e mantidos pelo mérito e que tenham continuidade para que possam planejar o desenvolvimento do porto e dos negócios portuários por longo prazo, independente da troca de presidente, de governador, de secretários de estado ou de mudanças políticas.

Adoção de práticas de boa governança corporativa com a participação da sociedade e transparência das contas, dos investimentos e dos problemas do porto e da gestão portuária.


2. Nas Hidrovias e Portos Interiores:

Separar a gestão das hidrovias da gestão do porto de Porto Alegre para possibilitar e incentivar uma política de exploração das hidrovias voltada para todos os nossos rios e não só para os canais que levam ao porto da Capital.

Desenvolver uma política industrial com os municípios banhados pelas hidrovias ou próximos a elas para atrair empreendimentos produtivos e de logística, ofertando assim alternativas na logística de transporte.


Obter delegação federal para que o Estado (e não mais Brasília) passe a autorizar e fiscalizar a instalação e ampliação dos terminais portuários, o que se tornará em importante ferramenta de desenvolvimento industrial.
Idem, idem para que a AGERGS passe a regular e fiscalizar os portos e terminais, evitando assim a superposição de órgãos, de burocracia e de custos.
Integrar o porto de Estrela e o sistema de eclusas à delegação estadual, os quais se encontram, atualmente, delegados à Cia. Docas de São Paulo, os ônus resultantes para o Estado dos custos de manutenção dessa infra-estrutura seriam compensados através da reestruturação e racionalização da atual Superintendência dos Portos e Hidrovias.

3. Na Dragagem nos Portos e nas Hidrovias:

À semelhança dos países desenvolvidos, os serviços de dragagem nos portos e nas hidrovias gaúchos devem ser permanentes. Esta prática, não apenas permite melhor conservação do meio ambiente, mas¸ também, oferece maior segurança à navegação e reduz os custos. Recentemente, o governo federal baixou a Medida Provisória n° 393, de 2007, instituindo novo programa de dragagem, passando a mesma a ser por resultados, com prazo de cinco anos, prorrogável por igual tempo, podendo ser contratadas empresas nacionais ou estrangeiras.


Nesse particular, cabe destacar a atuação do Secretário de Infra-Estrutura e Logística, Dr. Daniel Andrade, que convidou os dirigentes e técnicos da maior empresa de dragagem do mundo, a Royal Boskalis Westminster, que virão aqui, no início de dezembro próximo, para realizar estudos e proporem um planejamento de reestruturação das hidrovias e dos portos.

É mais do que oportuna essa importante decisão do Secretário que irá eliminar os gargalos existentes no setor e modernizar as práticas obsoletas que impedem o desenvolvimento das hidrovias e dos portos. Apenas para exemplificar o atraso em nosso Estado: há oito anos as autoridades locais não realizam uma dragagem séria nos, apenas, dois quilômetros do rio Gravataí, onde se localizam em torno de seis terminais, e que envolveria, no máximo, a remoção de 200.000 m³, e isto com recursos das próprias empresas titulares dos terminais.


Enquanto isso, no porto de Roterdã, para superar a limitação de espaço, os holandeses vão aterrar 20 quilômetros quadrados do mar do Norte, tendo sido, para isso, elaborado um programa para minimizar o impacto ambiental mediante a criação de uma reserva natural de marinha...


4. Conclusões:

Como ocorre na Holanda, a nossa sociedade civil precisa se mobilizar para o fortalecimento das instituições, para o estabelecimento de normas, padrões e regras como forma de impedir que tanto o atual governo como os futuros alterem, a seu exclusivo critério, a política de desenvolvimento do porto, a participação da sociedade na discussão dos seus assuntos estratégicos, as instituições estaduais e a forma do Estado se relacionar com o cidadão.

Para isso, não só nos portos, mas em quase todos os outros setores, torna-se indispensável que se adote como modelo institucional a governança corporativa, que se trata de um conjunto de princípios e práticas de gestão capaz de informar e demonstrar à sociedade o funcionamento, as decisões, a situação econômica, financeira e patrimonial das instituições geridas, bem como os problemas, os investimentos e o atendimento das finalidades do porto e/ou do órgão.


Especificamente em relação aos portos torna-se necessário o fortalecimento dos CAPs (Conselhos de Autoridade Portuária), nos quais os principais segmentos da sociedade portuária encontram-se representados, oe que estão a requerer o apoio, o comprometimento e participação de todos, notadamente das entidades empresariais e dos trabalhadores que deverão olhar e decidir sempre com foco no interesse público, no desenvolvimento de nosso Estado, o Rio Grande do Sul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário